2011 - A(E)REA PAULISTA

Livro de artista, edições Tijuana e Ateliê Carla Caffé


"...Organizados em pranchas verticais que, transpostas para livro organizam-se a partir de páginas sanfonadas, os desenhos de “Aerea Paulista” são compostos por uma mesma base contínua formada por faixas coloridas, semelhantes a um corte topográfico ou, como quer a arqueologia, ciência em tudo afeta a leitura que a artista faz da cidade, um corte revelador das camadas estratigráficas, do chão físico e histórico que suporta a avenida emblema da metrópole paulistana. Físico e histórico porque o empilhamento de faixas coloridas ao passo que sugere as camadas geológicas, o tempo lento em contraste com efemeridade humana, trazem os nomes das ruas que foram sendo criadas na passagem dos séculos da existência da cidade, as toponímias de louvor a santos, homens históricos, mulheres genéricas, datas e signos pátrios, outras cidades paulistas - Santo Antonio, São Vicente, Joaquim Eugênio de Lima, Brigadeiro Luís Antônio, Adoniram Barbosa, Maestro Cardim, Silvia, Augusta, Angelica, Abolição, Liberdade, 9 de Julho, Rio Claro, Santos, Jaú, Itú - todas elas partindo das imediações do vale do Anhangabaú, a profunda raiz indígena da urbe.

 Uma cidade é feita de natureza e história. E é desse chão variado que a artista, estudando a avenida símbolo da cidade, faz irromper uma sequência cinematográfica de edificações que também são florações encorpadas, arbóreas, densas ou diáfanas. Desfilam aos nossos olhos edifícios como o Cacique, o primeiro da série, à entrada do Parque Trianon, passando por uma típica banca de jornal, uma vista do paredão grafitado do “Buraco”, a passagem subterrânea de onde se acede à Rebouças e à Dr. Arnaldo; o surpreendente MASP com seus pilares exaltadamente vermelhos emoldurando um grupo das pinturas de seu acervo; a fachada orgulhosamente longitudinal do Nações Unidas, um bloco apoiado por dois conjuntos de pilares e encimado por uma laje perfurada por círculos de tamanhos diversos, sem outra função que não a ornamental; até mesmo uma vista, não da fachada do prédio, de resto uma arquitetura vulgar, dos interiores dos cinemas Gemini 1 e 2, hoje desaparecidos, mas que sobretudo quando da sua inauguração, encantaram o público com o colorido vivo e contrastante de suas poltronas, paredes e carpetes.

 A análise técnica reconhecerá a qualidade do olhar de Carla Caffé sobre a arquitetura, não fosse ela arquiteta de formação, os recortes preciosos, sublinhando a intenção dos autores das obras em presentear os habitantes. Mas o melhor corre por conta da dimensão poética do olhar da artista, expresso na leitura de uma casa romanticamente nomeada de "das rosas, das rodopiantes mandalas que nascem dos arcos da estação consolação do metrô, dos signos estridentes que se irradiam da torre do Casper Líbero, ele mesmo uma construção gráfica, um hachurado denso que traz em sua base um paredão onde a palavra "gazeta"se repete em relevo.  Carla Caffé capta com linhas e cores aquilo que o acaso construiu, o lance de dados produzidos pela urdidura de signos projetados ou não, as provas de uma beleza quase secreta e que ela consegue decifrar." - Agnaldo Farias

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